Apesar de constar nas vias romanas de há 2 mil anos, conforme o atestam os marcos miliares encontrados da aldeia e, actualemente, espalhados por museus da Idanha-a-Velha e Idanha-a-Nova e um onde na esquina de um prédio na Rua Joaquim Franco, Alcafozes encontra-se desde há muito afastado de uma via principal e está há muitas décadas a centenas de metros da estrada nacional nº 332, partindo da povoação uma outra estrada para Idanha-a-Nova, a nacional 354. Quando era miúdo costumava ir jojar à bola para o Leque com o meu primo João. Nessa altura, o Leque era formado por duas estradas perpendiculares, com quatro triângulos arborizados e outras tantas placas de identificação dos destinos. Essas placas eram altas, com duas "pernas" a segurar um quadro branco em pedra ou tijolo, um indicando a entrada de Alcafozes e o do lado oposto apontando para Idanha-a-Nova (13 kms), outro para a Granja de São Pedro (9 kms) e o da direcção oposto (Medelim 13 kms, Covilhã (?) e Guarda (90 kms).
Não sei quando, já não vou `"terra" à décadas, a Junta Autónoma das Estradas, sabe-se lá porquê, arrassou aquele belo espaço, onde passava um carro uma vez por festas e construiu um aborto de algo que se parece com uma rotunda, uma rodela despida de nada, sem qualquer significado e ainda por cima inclinada, embora ligeiramente de Alcafozes para Idanha-a-Nova. Já é mania...
Soube há tempos que existe um movimento para "povoar" essa espécie de rotunda com algo que seja um ícone da terra. O motivo ornamental, segundo logrei descortinar, estaria de acordo com algumas produções da terra, pintadas em letras de "caixa alta" num muro perto do tal anel no tal alcatrão da confluència da 332 com a 354: "terra de pão e carvão".
É um facto que existe produção de pão em Alcafozes desde tempos pré-românicos e o carvão foi uma necessidade dos anos 40, 50 e 60, actividade que levantou celeuma devido a problemas de sáúde, mas qualquer destas actividades contribuiu como mais-valia para a comunidade, mas praticamente para consumo individual. O meu avô fez carvão durante um curto espaço de tempo e a minha avó era especialista na feitura de pão para a família, amassando-o em casa e finalizando a conzedura num dos fornos da aldeia, onde fui bastas vezes com ela. Após estudar mais ou menos dois mil anos da História de Alcafozes, conseguindo pormenores aqui e ali e ligando-os numa sequência lógica, não deixa de ser um exagero e uma imprecisão essa tirada do "pão e do carvão". O que constatei ao longo deste longo período é existência consistente de uma grande actividade de pastorícia de gado e a exploração intensiva de azeite, como o provam alguns dos lagares dispersos pela zona de Alcafozes.
Assim sendo, e revendo a historiografia de Alcafozes, os responsáveis que se propõem a requalificar aquela espécie de rotundas com sacos de carvão e pães, deveriam concentrar-se na riqueza que alimentou Alcafozes, e não só, durante milhares de anos, desde os tempos remotos em que pastores tomavam conta de milhares de cabeças de gado e dos milhões de litros de azeite que sairam dali para outras paragens, enriquecendo os latifundiários locais. Voltando, portanto, à rotunda que está nas congitações dos responsáveis. este esboço que apresento na foto, com o pastor, o gado e a secular e produtiva oliveira deveriam ser os icones de Alcafozes no "hall" de entrada para a aldeia. Pelo menos estaria salvaguardada a verdade histórica desta aldeia milenar.
O pastor, o gado e a oliveira numa futura rotunda de Alcafozes